domingo, 9 de junho de 2013

A CORAGEM

G. K. Chesterton (1874-1936)

A coragem é quase uma contradição nos seus termos. Significa um forte desejo de viver, que toma a forma de uma absoluta prontidão para morrer. “Aquele que perder a sua vida salvá-la-á” este não é um lema de misticismo para santos e heróis, é um conselho diário para alpinistas e marinheiros. Podia estar impresso no guia do alpinista ou num manual de instrução militar.
Este paradoxo é todo o princípio da coragem, mesmo que se trate de uma coragem absolutamente terrena ou de uma coragem absolutamente brutal. Um homem isolado pelo mar poderá salvar sua vida, se arriscá-la, lançando-se ao precipício. Ele só pode escapar da morte, aproximando-se continuamente dela, até que reste apenas uma polegada de distância. Um soldado cercado pelos inimigos, se quiser salvar-se, precisa combinar um forte desejo de viver com uma extraordinária despreocupação em relação à morte. Não deve, apenas, agarrar-se à vida, pois, nesse caso, seria um covarde e não escaparia. Não deve, tampouco esperar pela morte, pois seria, então, um suicida e também não escaparia. Deve procurar a vida com um ímpeto de furiosa indiferença para com ela; deve desejar a vida como quem deseja água e, no entanto, deve beber a morte como quem bebe vinho.

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